O COVID-19 e o seu impacto na indústria dos combustíveisJá muito se escreveu sobre a crise gerada pela Pandemia do COVID -19 e o seu impacto em termos de saúde pública e na economia. Não restam dúvidas a ninguém que o mundo foi apanhado desprevenido, isto apesar de algumas personalidades terem, nos últimos anos, alertado para esta possibilidade, como foram os casos de Bill Gates e Barak Obama. Em termos de saúde pública o efeito é muito significativo quer em número de infetados quer em número de óbitos, mas vou deixar essa análise para os especialistas.
Há depois os efeitos na economia. E eles são fundamentalmente de dois tipos. A redução imediata da atividade económica em resultado das medidas de confinamento decretadas pelas autoridades nos vários países que levaram ao encerramento de inúmeros estabelecimentos e atividades; e o clima de incerteza e consequente nível de confiança das empresas, dos consumidores e da população em geral que dificultam a desejada retoma pós-crise. Ela acontecerá, resta saber quando e a que ritmo.
No caso particular da indústria dos combustíveis o impacto está a ser brutal em diversas frentes que iremos tentar enumerar, sem a pretensão de sermos exaustivos e precisos. Mas o objetivo é tentar explicar as implicações de curto, médio e longo prazo em toda a cadeia de valor. Muitas vezes lemos opiniões apenas focadas no curto prazo e num determinado elo da referida cadeia, normalmente a mais perto dos consumidores finais, já que é essa a mais sentida pela população em geral.
A nível de I&D poderemos assistir a uma indesejada desaceleração desta atividade e dos respetivos orçamentos, por duas razões fundamentais: os inevitáveis cortes nos investimentos e despesas dos estados e das empresas confrontadas com a redução, muitas vezes drástica das suas receitas; e o preço baixo dos combustíveis fósseis que tornam as alternativas menos competitivas. Obviamente que haverá situações de exceção que poderão ser propícias ao aparecimento de novas áreas a explorar, mas essa não deverá ser a regra.
Em termos de produção, assistimos a um excesso de oferta quer no petróleo, quer noutras fontes, como os biocombustíveis face à retração da procura, provocando um colapso nos preços. Este aspeto tem um efeito de alívio dos consumidores no curto prazo, mas um efeito perverso a nível dos produtores, nomeadamente em países muito dependentes da exploração e produção de petróleo. Isso implica um efeito em cadeia na economia mundial devido aos cortes de despesas e de planos de investimento que forçosamente resultam desta situação. A recente “guerra de preços” desencadeada pela Arábia Saudita, embora aparentemente ultrapassada, só veio agravar a situação. A redução dos investimentos poderá levar a uma situação de escassez de oferta no médio / longo prazo, com efeitos ainda imprevisíveis.
O setor da refinação se por um lado pode ter acesso a matérias-primas a mais baixos preços, por outro enfrenta uma redução drástica da procura dos produtos refinados, que leva a duas consequências: queda dos preços nos mercados internacionais que esmagam as margens de refinação, e insuficiência na capacidade de armazenagem, levando ao encerramento de algumas linhas de produção ou mesmo de refinarias. A situação que se vive nos combustíveis para a aviação e na gasolina são particularmente graves.
Finalmente, o setor de distribuição e comercialização também é fortemente afetado. A já referida quebra da procura leva a que os custos fixos tenham um maior peso, minando a rentabilidade dos negócios. Para além disso, e ao contrário das atividades dos anteriores elos da cadeia de valor, há muitas pequenas e micro empresas que não têm a mesma capacidade financeira e enfrentam problemas de tesouraria que poderão comprometer irremediavelmente o seu futuro.
Tudo isto contribui para os dois aspetos referido no início: quebra da atividade económica e dos níveis de confiança, com as consequências sociais que daí resultam: destruição de emprego, das receitas fiscais, num momento em que exatamente os Estados vêm as suas despesas aumentar para tentarem mitigar os efeitos da pandemia, a nível da saúde pública, e também da economia, com os apoios às empresas e aos trabalhadores.
Haverá, pois, que juntar todos os esforços dos organismos supranacionais, como é o caso da União Europeia, que nos está mais próximo, das empresas, dos trabalhadores e da sociedade civil em geral para se encontrarem os caminhos da recuperação que todos desejamos serem o mais breves e rápidos possíveis.
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