ÁREA RESERVADA
Login

Notícias

12/11/2025

À medida que os riscos se multiplicam num mundo sedento de energia, a diversificação e a cooperação tornam-se mais urgentes do que nunca

Energia e Clima

Num contexto cada vez mais complexo de segurança energética — que abrange uma vasta gama de combustíveis e tecnologias — o Relatório World Energy Outlook 2025 da Agência Internacional de Energia (AIE) identifica escolhas-chave, oportunidades e compromissos que os governos terão de enfrentar.

Os países de todo o mundo confrontam-se hoje com ameaças sérias à segurança energética e riscos de longo prazo que atingem uma variedade sem precedentes de combustíveis e tecnologias. A energia ocupa agora o centro das tensões geopolíticas e tornou-se uma questão essencial de segurança económica e nacional.

Neste cenário, a mais recente edição do World Energy Outlook sublinha a necessidade de os governos promoverem uma maior diversificação das fontes de abastecimento e de reforçarem a cooperação internacional, a fim de lidar com as incertezas e turbulências que se aproximam.

A edição de 2025 do WEO, considerada a referência mundial mais credível em matéria de análise e projeção energética, apresenta uma série de trajetórias possíveis, salientando diferentes oportunidades e vulnerabilidades, bem como pontos de convergência.

O relatório utiliza três cenários principais (nenhum deles uma previsão) que representam futuros energéticos alternativos, que permitem analisar as implicações de distintas políticas, investimentos e opções tecnológicas em termos de segurança energética, acessibilidade e emissões.

Entre as tendências comuns a todos os cenários, destaca-se a crescente procura global de serviços energéticos nas próximas décadas: mais energia será necessária para mobilidade, aquecimento, refrigeração, iluminação, processos industriais e, cada vez mais, para dados e serviços baseados em inteligência artificial.

Um grupo de economias emergentes — liderado pela Índia e pelos países do Sudeste Asiático, e que inclui também nações do Médio Oriente, África e América Latina — começa a influenciar decisivamente a dinâmica dos mercados de energia. Estes países estão gradualmente a substituir o papel da China, que desde 2010 foi responsável por metade do crescimento global da procura de petróleo e gás e por 60 % do aumento da procura de eletricidade. No entanto, nenhum país ou bloco deverá replicar o crescimento intensivo em energia registado pela China.

Simultaneamente, os riscos energéticos tradicionais, como interrupções no fornecimento de petróleo e gás, são hoje acompanhados por novas vulnerabilidades, sobretudo nas cadeias de fornecimento de minerais críticos, onde existe uma forte concentração de mercado. Um único país, a China, domina a refinação  de 19 dos 20 minerais estratégicos utilizados na energia, detendo em média 70 % da quota de mercado.

Estes minerais são fundamentais para as redes elétricas, baterias, veículos elétricos e também para setores estratégicos como chips de IA, motores de aviação e sistemas de defesa. A concentração geográfica na refinação destes minerais aumentou desde 2020, em especial no caso do níquel e do cobalto. O relatório salienta que inverter esta tendência exigirá uma ação governamental mais firme e coordenada.

“Quando olhamos para a história recente da energia, não há outro momento em que as tensões de segurança energética tenham afetado tantos combustíveis e tecnologias em simultâneo — uma situação que requer o mesmo espírito e determinação que levou à criação da AIE após o choque petrolífero de 1973”, afirmou Fatih Birol, Diretor Executivo da AIE -“Com a segurança energética novamente no topo das prioridades, as políticas públicas devem ponderar as sinergias e compromissos com outros objetivos — nomeadamente acessibilidade, competitividade, equidade e combate às alterações climáticas.”

A eletricidade está no centro das economias modernas, e a sua procura cresce mais rapidamente do que o consumo total de energia em todos os cenários. O investimento na produção e distribuição elétrica já representa metade do investimento energético global.

Atualmente, a eletricidade corresponde apenas a cerca de 20 % do consumo final de energia, mas é a principal fonte para mais de 40 % da economia mundial e para a maioria das famílias.

“O mundo entrou definitivamente na Era da Eletricidade”, reforçou Birol. “O crescimento da procura de centros de dados e de aplicações de inteligência artificial está a impulsionar o consumo de energia também nas economias avançadas. O investimento global em centros de dados deverá atingir 580 mil milhões de dólares em 2025, ultrapassando os 540 mil milhões investidos no abastecimento mundial de petróleo — um símbolo marcante da transformação das economias modernas.”

A segurança energética nesta nova era dependerá da rapidez com que forem desenvolvidas novas redes elétricas, sistemas de armazenamento e mecanismos de flexibilidade. Apesar de os investimentos em geração elétrica terem crescido 70 % desde 2015, o investimento em redes aumentou menos de metade.

As energias renováveis, especialmente a solar fotovoltaica, continuam a ser a fonte com crescimento mais acelerado em todos os cenários. O relatório estima que, até 2035, 80 % do aumento mundial do consumo energético ocorrerá em regiões com alta exposição solar.

Outro elemento comum é o renascimento da energia nuclear, com um aumento significativo do investimento tanto em grandes centrais como em pequenos reatores modulares. Após mais de duas décadas de estagnação, a capacidade nuclear global deverá crescer pelo menos um terço até 2035.

O relatório prevê fornecimentos adequados de petróleo e gás a curto prazo. O preço do petróleo deverá estabilizar entre 60 e 65 dólares por barril, e é expectável uma folga semelhante no mercado do gás natural, impulsionada por uma nova vaga de projetos de gás natural liquefeito (GNL).

Em 2025, as decisões de investimento em novos projetos de GNL dispararam. Estima-se que 300 mil milhões de metros cúbicos adicionais de capacidade anual de exportação entrem em operação até 2030, o que representa um aumento de 50 % da oferta global. Os Estados Unidos respondem por cerca de metade dessa nova capacidade, e o Qatar por aproximadamente 20 %.

Embora a procura de gás natural tenha sido revista em alta, persistem dúvidas sobre quem absorverá todo este novo volume. O relatório alerta que o alívio temporário dos mercados não deve conduzir à complacência, uma vez que ambos permanecem vulneráveis a choques geopolíticos e a flutuações de procura.

No que respeita a acesso à energia e alterações climáticas, o mundo continua aquém das metas estabelecidas: cerca de 730 milhões de pessoas continuam sem eletricidade, e 2 mil milhões utilizam ainda métodos de cozinha poluentes e prejudiciais à saúde.

Um novo cenário delineado no WEO-2025 propõe alcançar acesso universal à eletricidade até 2035 e “cozinha limpa” até 2040, com o gás de petróleo liquefeito (GPL) a desempenhar um papel crucial.

O relatório prevê que o planeta ultrapasse temporariamente o limiar dos 1,5 °C de aquecimento global em todos os cenários, mas sublinha que ainda é possível reverter a tendência através de emissões líquidas zero até meados do século.

Por fim, o WEO-2025 adverte para a necessidade urgente de reforçar a resiliência dos sistemas energéticos face a fenómenos climáticos extremos, ciberataques e outras ameaças. Em 2023, interrupções em infraestruturas críticas de energia afetaram mais de 200 milhões de agregados familiares em todo o mundo, sendo que as linhas de transmissão e distribuição representaram 85 % desses incidentes.

Principais conclusões:

  • A diversificação das fontes energéticas e a cooperação internacional são mais urgentes do que nunca.
  • A concentração de minerais críticos é um dos maiores riscos para a segurança energética global.
  • O mundo entrou na Era da Eletricidade, impulsionada pela digitalização e pela IA.
  • As energias renováveis e a energia nuclear emergem como pilares centrais da transição.
  • Os mercados de petróleo e gás permanecem voláteis, apesar da atual folga de oferta.
  • O acesso universal à energia e o cumprimento das metas climáticas continuam fora de alcance.
  • É imperativo reforçar a resiliência das redes e infraestruturas energéticas face a riscos climáticos e tecnológicos.

Consulte aqui o World Energy Outlook 2025